domingo, 28 de abril de 2013

For as a man thinketh in his heart, so is he

 
A ideia de viver a vida um dia de cada vez dá importância de mais ao dia. O problema não está nem no dia, nem na manhã ou na noite, mas no hábito de dividir o tempo em unidades fáceis de entender. Para mim, a vida é o que estou agora a viver mais o desejo - mas não a expectativa - que dure mais uns momentos, dias, meses, anos, décadas.O desejo do futuro, na versão mais alegre, da continuação do presente, ocupa sempre uma porção valiosa do presente vivido sem pensar em mais nada. Mas a estupidez é uma espécie de vida suspensa, pior do que a morte. Tanto o optimismo como o pessimismo - como demonstra com força Will Self na oleosamente autocongratulória edição centenária do New Statesman - são doenças da razão.
Ter uma atitude e gastar tempo com ela é capaz de ser a pior maneira de desperdiçar o tempo. Virão momentos em que nada se conseguirá fazer senão lembrar ou ter medo do que vai acontecer.
Agora não é a altura para nos pormos a adivinhar quando e como serão, com maior ou menor precipitação.
Quando volta o sol da Primavera e o dia começa a correr bem, a nossa tarefa principal deve ser reunirmo-nos a nós mesmos (collect ourselves) e estarmos todos lá, na nossa única pessoa, para recebê-los.
A preparação rouba muito tempo. O vaticínio é mais rápido mas predispõe-nos e ocupa-nos enquanto não for posto à prova.
O melhor é sempre o que está mais perto de nós no tempo, no espaço e na sucessão de acontecimentos: o futuro é hoje; já passou.
 
 
 
Miguel Esteves Cardoso
 
 
Público, 13/04/2013


 


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